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Tinta De Jornal

           Tinta De Jornal

                     By Camuccelli

     Quanto mede uma anã? Irina é uma anã de quase trinta anos de idade. Trabalha vendendo bugigangas na esquina da rua principal do bairro aonde vivi na cidade de Niterói. Olhando para ela você vê uma mulher de mais de cinquenta anos de idade. É que pra ir trabalhar, ela se maquia feito uma mulher de mais idade. Se veste e fala como a tal. Na parte da tarde, se veste como uma adolescente, fala e agi como uma adolescente. Fez aula de fonoaudiologia para aprender a modificar a voz e imitar a quem quiser. Irina vai para o colégio a tarde, se passa por uma garotinha, fala e agi como a tal. É importante se lembrar sempre que Irina tem quase trinta anos de idade.
    Rico, cujo nome é Henrico. Se apronta cuidadosamente, coloca  óculos escuros espelhados, se olha no espelho, ajeita a gravata rosa de borboleta. Pega a bengala dobrável, abre a porta e sai. Na maioria das vezes, Rico fica parado na esquina do bairro aonde mora na cidade de Niterói. Ele se passando por um deficiente visual,passa o dia na esquina com uma caixa nas mãos feito garsa dentro da água esperando o peixe passar pelos seus pés.
     Um caminhão baú para diante dele. Quatro homens sai pela porta detrás, dois agarra Rico pelos braços e pelas pernas, joaga- o dentro do caminhão com a bengala e a caixa.
    O caminhão andou por alguns minutos,entrou em um estacionamento vazio cheio de mato. Parou,os dois homens que estavam na cabine saem, abrem a porta traseira, os outros dois que estavam dentro pulam para fora. Um deles com um sino na mão diz:--- Vou primeiro. Quando terminar toco o sino. Vocês decidem entre si quem vai ser o próximo. Quarenta minutos depois o sino toca. O homem sai de dentro do caminhão ajeitando as calças. Outra entra. Trinta minutos depois ele toca o sino. Foi assim até o último que falou:--- Tava muito largo e todo lameado. Não tava dando pra estocar. Uma merda. Dois entraram no caminhão,pegaram Rico pelos braços e pelas pernas, jogaram-no no chão com a caixa e a bengala. O homem que entrou primeiro no caminhão, pegou a caixa no chão,retirou da carteira cinquenta reais, os colocou dentro da caixa. Os outros fizeram o mesmo. Entraram no caminhão e partiram deixando Rico deitado com as calças até o joelho.
    Carregando várias sacolas,Irina chega no prédio aonde mora, pega o elevador. É um prédio antigo de quatro andares. Ela mora no último. Abri a porta, entra,coloca as sacolas em cima do sofá coberto por uma capa desbotada. Abri a janela depois de colocar a mochila do lado do sofá:--- Agora não vou mais me privar de nada. Descobri a fonte. Pescar sim, mas com classe.
    Rico caminhava pela avenida central procurando outro lugar para fazer ponto:--- Naquele rua nunca mais. Pensou ele enquanto caminhava pontilhando as pedras da calçada com a bengala. O celular toca dentro do bolso. Ele pega-o, atende nervoso:--- Ficou maluca! Sabe que atender celular na rua é um perigo.... É não! É não! Não lhe vi ontem. Chegou muito tarde.... estava machucado. Quatro homens me agarraram, me jogaram dentro de um caminhão , amarraram os meus braços,abriram as minha pernas, amarraram cada uma de um lado e abusaram de mim....o último que me usou disse no meu ouvido:--- o sonho da gente tá realizado. Aí cada um colocou cinquenta reais dentro da caixa e me jogou no asfalto do estacionamento desativado na rodovia.... já,já mudei de ponto. Vou ficar atento. Agora chega, a noite a gente conversa mais. Desliga o celular, coloca-o dentro do bolso. Continua a caminhada. Da janela de um apartamento cai uma coisa que aterrissa na testa dele:---  Que porra! Passa a mão, olha:--- ih, é porra mesmo! Sacode a mão, limpa-a no paletó e continua a caminhada.
        É assim que a semana termina. Deus me livre de ficar agourando o assunto qualquer que fosse. Irina abre a porta e dá de cara com Rico de cueca esparramado no sofá assistindo a TV:--- Esquentou a comida pelo menos?---- Acabei de chegar também. Não tive um dia bom. Já você, pelas sacolas, pescou em águas mansas né não!--- Tem sido sim.--- Coloca as sacolas em cima da mesa. Começa a retirar tudo de dentro e os coloca  em cima do sofá no espaço vazio. Rico faz comentários para cada peça que ela retira de cada sacola.
     O tempo passa. Depois de comerem, guardar as coisas, os dois se sentam colados de olhos fitos no televisor. A campainha grita na cozinha. Ela se levanta e caminha até a porta. Abri-a, dois homens comuns vestindo roupa causal, um deles diz:----Irina, esse é o seu nome?----Sim,é! ---A senhora pode nos acompanhar?---- Não! Não saio numa hora dessa com caras que nunca vi. ---- Ele  puxa para fora da camisa o distintivo, mostra uma autorização para a prisão. Saem com ela algemada. Do jeito que Rico estava continuou. Assim que êles saíram, ele entrou no banheiro, ficou lá por um bom tempo. Voltou, sentou-se no sofá,aumentou o volume da TV.  O noticiário local começara naquele momento, a rua,o prédio. Lá estava Irina sendo levada para dentro do carro de polícia:---- Desarticulada uma quadrilha que dava golpes em jovens na escola:--- Disse a repórter.  Irina se vestia como adolescente, mas tinha a cima de 32 anos de idade. Se valia da pequena estatura para se passar por uma menina, marcava encontro com os garotos, o golpe era dado usando o cartão por aproximação. Acreditando que ela tivesse a mesma idade,êles iam com ela sem pestanejar. O encontro era sempre regado por muito sexo, música e bebida. Levava-os a uma apartamento e a dona ficava com uma parte do dinheiro do golpe. A quadrilha tinha até um carro que levava os jovens selecionados para o local. Irina planejava o dia, a hora  do encontro no pátio da escola. Embebedava os jovens, depois os extorquia. A polícia foi ligando uma coisa com a outra até chegar a cabeça do grupo. Agora estão todos na prisão.
     Rico desliga a TV. Põe a cabeça no meio das perna. Fica lá de olhos fechados.
                   FIM

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