Impaciência
By Camuccelli
Dia nublado, noite abafada, cheia de muriçoca. Tia Cila espera, e odeia o ato da esperar. Em hora nenhuma da tarde a amiga ligara. Ela, por opinião, ou coisa sem importância, também não liga. A gente é assim, se vinga, cavando o silêncio na ignorância da nossa própria intolerância. Nos jogamos no sofá com buracos no meio, coberto por uma colcha. Tia Cila não tem gato nem cão. O filho mora em outra cidade e é filho único. Com a estória da pandemia, é raro sair de casa, mas o filho liga para ela todos os dias e cobra , aí dela se não fizer o que ele manda, sabem como é filho dessa era: controlador. Ela anda da sala para a cozinha,da cozinha para a sala. Senta levanta,é uma agonia só. Olha para o celular em cima da mesa. Ele lá, apagado. Deita no sofá e estica as pernas no braço dele. Olha de novo para o celular. Muitos minutos depois, levanta, calça o chinelo e vai para a janela. A rua lá em baixo, os transeuntes parecem formigas trafegando de um lado a outro. Alguns com máscara,outros nem tanto. O mar calmo, alguns jovens se jogam nas ondas rasteiras sem força. Apesar de acesas,as luzes não ilumina aonde as ondas quebram. Os carros buzinando como se não houvesse mal invisível ao nosso redor. Tia Cila se vira, olha para o celular e nada:----Se ela pensa que vai ficar no ver e não comprar, vai vê só!. -- Dá uma última olhada na rua e volta para o sofá. Pega o controle e liga a TV.
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